Nascida em 8 de setembro de 1919, Vitalina Castelan Paresqui, conhecida como Dona Lina, mudou-se em 1968 para a casa n° 112, na região que hoje abriga a capela de Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Guanabara. A casa de D. Lina foi construída com muita dificuldade, por suas próprias mãos e de seu esposo, e nela morou até falecer em 29 de setembro de 2017, aos 98 anos.
A praça que hoje existe em frente à sua casa era, na época, um enorme "buraco" com mata fechada, que ela chamava carinhosamente de lagoa e, no fundo, havia uma clareira com água e um pé de goiaba no centro. E no meio daquela vasta vegetação habitavam cobras, lagartos, gambás e outros.
Com receio de que as crianças que ali brincavam, assim como os animais domésticos fossem mordidos e feridos, D. Lina começou imediatamente a cuidar do entorno, retirando com enxada, foice e ancinho, a parte da vegetação que invadia a rua e abrigava o perigo, como tentativa de proteger os que passavam perto. Já nesta época começou a sonhar com uma praça no local, com árvores, arbustos, flores, bancos e um espaço para as crianças brincarem.
No final dos anos 70, este "buraco" começou a ser aterrado com entulho proveniente das construções que surgiam nas redondezas. A vegetação foi substituída por um solo seco, no qual restaram apenas algumas árvores que por seu porte suportaram a mudança. E o local começou a ser utilizado por rapazes que vinham com seus carros fazer "piruetas". Chegaram também os apaixonados por futebol. Primeiro, os que moravam perto e depois outros que vinham de lugares mais distantes. Colocaram traves, redes, e a área virou um campo de futebol. Aos sábados, domingos e feriados, pela manhã e à tarde, com sol ou chuva, lá estavam eles, os "peladeiros"
Mesmo nos dias de semana pela manhã, tinha ocupação garantida: chegava a equipe do Corpo de Bombeiros que ali praticava seus exercícios. E D. Lina assistia a tudo aquilo sem desistir de seu sonho; e mesmo com o campo de futebol ali instalado, começou a cultivar um jardim no entorno. Arejava a terra, adubava, plantava, carregava a água em baldes para molhar as plantas. Travava uma batalha silenciosa e diária com a bola, que inocente, danificava seus mimos. E ainda havia os carros que eram estacionados em cima das plantas, e pessoas que em suas caminhadas arrancavam as mudas e as flores (mas com estas ela se alegrava). D. Lina, decidida, replantava tudo de novo, pois queria atingir o seu sonho e assim fazia sempre.
Um dia, funcionários da Fundação Parques e Jardins da Prefeitura chegaram trazendo consigo o projeto de urbanização da área, que previa uma reforma completa no local e seu jardim seria retirado, o que para ela foi motivo de tristeza. Mas sua dedicação foi reconhecida pelo responsável pela execução do projeto, que decidiu criar um espaço para manter uma parte do florido jardim. Novas árvores e arbustos foram plantados, lixeiras foram instaladas, os bancos foram colocados, um espaço para as crianças brincarem foi reservado e um sonho, realizado.
Dona Lina dedicou-se a cuidar da praça que um dia havia sido seu sonho e que se tornara realidade. Continuou plantando e cuidando: abacateiro, mangueira, goiabeira, acerola, pinheiro, roseiras, quaresmeiras e muito mais. Molhava as plantas diariamente, capinava o mato crescido, pintava todo ano, para o Natal, o banco de madeira que recebeu como doação, cobrava a limpeza daqueles que usufruíam do lugar e também dos responsáveis pela manutenção da praça. E quando os servidores da Prefeitura chegavam para cuidar da praça, eram sempre bem recebidos: água gelada, cafezinho e com frequência um pedaço de bolo. Dona Lina se dedicou pessoalmente à praça de seus sonhos até a idade de 93 anos. Nos três anos seguintes, já com a saúde frágil, contou com a ajuda de seu filho para realizar as tarefas às quais havia se dedicado. E posteriormente, quando por motivo de saúde, seu filho ficou impossibilitado de ajudá-la, cuidou à distância, contratando profissionais para algum serviço quando necessário.
Foi homenageada por pessoas que reconheceram a sua dedicação àquele espaço por quase meio século, e de maneira informal, a praça foi batizada com o seu nome, sendo só oficializada pela municipalidade em 2018. Mais de 40 anos se passaram desde a primeira muda que plantou.
Agradecimentos a Carmen Silvia M. Xavier, pela indicação da fonte; e a Fernanda Paresqui, neta de D. Lina, pela foto e algumas informações
Fonte: Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro