Gil Vicente (c. 1465 - c. 1536?) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e diretor de teatro. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do ibérico já que também escreveu em espanhol, compartilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.
Apesar de se considerar que a data mais provável para o seu nascimento tenha sido em 1466 - hipótese defendida, entre outros, por Queirós Veloso - há ainda quem proponha as datas de 1460 (Braamcamp Freire) ou entre 1470 e 1475 (Brito Rebelo). Se nos basearmos nas informações veiculadas na própria obra do autor, encontraremos contradições. "O Velho da Horta", "A Floresta de Enganos" ou o "Auto da Festa", indicam 1452, 1470 e antes de 1467, respectivamente.
Frei Pedro de Poiares localizava o seu nascimento em Barcelos, mas as hipóteses de assim ter sido são poucas. Pires de Lima propôs Guimarães para sua terra natal - hipótese essa que estaria de acordo com a identificação do dramaturgo com o ourives, já que a cidade de Guimarães foi durante muito tempo berço privilegiado de joalheiros. O povo de Guimarães orgulha-se desta hipótese, como se pode verificar, por exemplo, na designação dada a uma das escolas do Concelho (em Urgeses), que homenageia o autor.
Lisboa é também muitas vezes defendida como o local certo. Outros, porém, indicam as Beiras para local de nascimento.
Apesar de se considerar que a data mais provável para o seu nascimento tenha sido em 1466.
Sabe-se que casou com Branca Bezerra, de quem nasceram Gaspar Vicente (que morreu em 1519) e Belchior Vicente (nascido em 1505). Depois de enviuvar, casou com Melícia Rodrigues de quem teve Paula Vicente (1519-1576), Luís Vicente (que organizou a compilação das suas obras) e Valéria Borges. Presume-se que tenha estudado em Salamanca, Espanha.
O seu primeiro trabalho conhecido, a peça em castelhano, é "Auto da Visitação", também conhecido como "Monólogo do Vaqueiro".
Crítico severo dos costumes, de acordo com a máxima que seria ditada por Molière -"Ridendo castigat mores" ("Rindo se castigam os costumes") -, Gil Vicente é também um dos mais importantes autores satíricos da língua portuguesa. Em 44 peças, usa grande quantidade de personagens extraídos do "espectro social português da altura". É comum a presença de marinheiros, ciganos, camponeses, fadas e demônios e de referências a dialetos e linguagens populares.
Tão importante foi o trabalho de Gil Vicente que Erasmo de Roterdã (1466 ou 69 - 1536), filósofo holandês, estudara o idioma português para assim poder apreciar sua obra no original. Seu estilo deu origem à Escola de Gil Vicente, ou escola popular, tendo por modelo as coisas simples do povo.
Seus filhos, Paula e Luís Vicente, foram os responsáveis pela primeira edição das suas obras completas. Em 1586, sai uma segunda edição, com muitas passagens censuradas pela Inquisição. Só no século XIX se faria a redescoberta do autor, com a terceira edição de 1834, em Hamburgo, levada a cabo por Barreto Feio.
Fonte: Wikipedia, com informações de "O mundo religioso de Gil Vicente", Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2002; e "História da Literatura", de José Marques da Cruz
Foto: www.planonacionaldeleitura.gov.pt