Compositor e cantor, Ataulfo Alves de Sousa nasceu na Fazenda Cachoeira, município de Miraí, Zona da Mata mineira no dia 2 de maio de 1909, filho de Severino de Sousa e Matilde de Jesus. O pai, que tinha o apelido de "capitão", embora nunca tivesse sido militar, tocava viola, sanfona e fazia repentes. Ficou conhecido em toda a região.
Ainda com oito anos, Ataulfo já gostava de improvisar com Severino, que faleceu quando ele tinha apenas 10 anos. Com a morte do pai, a família deixou a fazenda (propriedade de Alves Pereira, que pode ser o motivo do sobrenome Alves de Ataulfo), indo morar na Rua do Buraco (hoje Ataulfo Alves), 23, em Miraí (MG). Era uma família de sete irmãos: Ataulfo, Alaor, Paulinho, Tita, Maria Mercedes, Maria Antonieta e Norina.
Ainda menino, o compositor começou a trabalhar para ajudar a mãe no sustento da casa. Foi leiteiro, condutor de bois, apanhador de malas na estação, menino de recados, carregador de marmitas, marceneiro, engraxate, plantador de café, arroz e milho, e muitas outras atividades. Mesmo trabalhando duro, continuou seus estudos no Grupo Escolar Dr. Justino Pereira.
Deixou Miraí em 1927, com apenas 18 anos, indo para o Rio de Janeiro tentar melhores oportunidades. Partiu acompanhando o médico Afrânio Moreira de Resende, amigo de sua família, e que se transferia para a capital federal, com mulher e filhos. Ataulfo passou a trabalhar de dia no consultório do amigo, na Rua da Assembleia, centro do Rio, e de noite, fazia a limpeza geral da residência do médico.
Depois de algum tempo, empregou-se na Farmácia e Drogaria do Povo (de Samuel Antunes), como limpador de vidros, e onde acabou aprendendo a ser oficial de farmácia (farmacêutico sem formação acadêmica), conquistando a simpatia e a confiança do dono. Na época, morava no bairro do Rio Comprido, onde passou a frequentar rodas de samba.
Aos 19 anos, casou-se com Judite. Nessa época conheceu uma jovem de nome Maria do Carmo, amiga das filhas do patrão, e que morava na Travessa do Comércio, 24. A moça vivia dizendo que um dia seria artista. O compositor achava graça. A jovem era, simplesmente, aquela que se tornaria o mito Carmen Miranda. Em 1929, chegou a trocar, por curto período, o emprego na farmácia de Samuel. Foi trabalhar na Farmácia Mello, no Catumbi. Teve, com a esposa Judite, cinco filhos: Adélia, Ataulfo Júnior, Adeilton, Matilde e Adelino (que morreu jovem).
Ao longo dos 35 anos de sua vitoriosa carreira, acumulou muitos troféus, medalhas, placas e diplomas, além dos quadros pintados por Pancetti, "Lagoa serena" e "Pois é", inspirados em seus famosos sambas. Um lenço branco foi a sua "marca registrada". Com ele, costumava "reger" o seu conjunto. Foi um dos mais bem sucedidos sambistas compositores dos anos 1940 e 1950. Sempre muito educado, gentil e refinado, vestia-se com elegância. Chegou a ser eleito um dos "10 mais elegantes" em famoso concurso promovido pelo colunista social Ibrahim Sued.
Foi um dos primeiros compositores populares a editar suas próprias composições.
Faleceu em 20 de abril de 1969 no Rio de Janeiro, vítima de uma úlcera no duodeno que o acompanhou por quase 20 anos.
Fonte: Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira
Foto: Prefeitura Municipal de Miraí (www.mirai.mg.gov.br)